SÃO PAULO — Como já escrevi neste espaço, a invenção da polícia foi uma das melhores coisas que aconteceram à humanidade. Sem ela, estaríamos todos muito perto da guerra de todos contra todos descrita por Thomas Hobbes. Daí não decorre, porém, que a repressão seja a resposta para todos os nossos problemas. Como mostrou a Folha, quatro meses depois de iniciada a ocupação da cracolândia pela PM, a venda de drogas na região continua intensa.
Por razões econômicas bastante precisas, o tráfico é um delito contra o qual a repressão policial é pouco efetiva. Ao menos em teoria, o sujeito que vai cometer um crime faz uma análise de custo e benefício. Ele calcula a chance de ser preso e a pesa contra o lucro esperado. O papel da polícia é elevar o risco de aprisionamento, de modo que o perigo para o bandido supere a recompensa.
O sistema funciona relativamente bem para crimes como roubo a banco, nos quais o valor benefício não é afetado pela ação da polícia. No caso das drogas, entretanto, a repressão aumenta o risco para o traficante, mas também o benefício, pois os preços dos entorpecentes — e os lucros das quadrilhas — tendem a subir sempre que o cerco se fecha.
A consequência é que combater o comércio ilegal de drogas é uma atividade extremamente ineficiente. Não é coincidência que o mundo siga esse paradigma já há quase um século e, mesmo investindo bilhões de dólares por ano na repressão, tenha colido resultados entre inócuos e frustrantes. Ao longo da última década, só o que conseguimos foi manter o consumo mais ou menos estável, em torno de 5% da população maior de 15 anos, segundo a ONU.
A grande verdade é que não existe solução para o problema das drogas. O mundo não é um paraíso idílico; é um lugar cheio de perigos, que incluem várias substâncias psicoativas pelas quais nossos cérebros têm uma fraqueza fata. Temos de aprender a conviver com eles.
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